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Crítica documentário/É Tudo Verdade

Diretor filma desejo por Brigitte Bardot

Mais que um documentário sobre a atriz francesa, produção trata da fascinação de espectador

Tudo que Ela fazia era encenado para as câmeras e a satisfação dos fãs, sobretudo masculinos, que a elegeram como protagonista de sonhos eróticos

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Neste mundo superpovoado por "selfies", a gente acredita tanto na imagem que nem perde tempo se perguntando o que pretende guardar com elas.

Quando o documentarista David Teboul decidiu fazer um filme sobre o ícone Brigitte Bardot talvez buscasse alcançar a parte secreta da vida desse ícone, sua verdade.

"Bardot, a Incompreendida", contudo, logo desiste desta utopia, pois no caminho encontra outras ideias, mais reveladoras.

Estrela do cinema francês nos anos 1950 e 1960, Bardot foi celebridade numa época em que este fenômeno era menos vulgar. Tudo que ela fazia parecia encenado para as câmeras e para satisfação da legião de fãs, sobretudo masculinos, que a elegeram como protagonista de seus sonhos eróticos.

Depois de duas décadas de intensa radiação nas telas, Bardot abandonou o cinema em 1973, assumiu o papel de defensora dos animais, virou uma velha feia e de vez em quando retorna ao noticiário com tomadas de posição de um direitismo enfadonho.

David Teboul era um adolescente no início dos anos 1960 e sofreu diretamente os efeitos desse encantamento, seguido de decepção.

Em vez de exumar essa trajetória por meio de dezenas de depoimentos louvando ou demolindo o ídolo, o diretor propõe outra abordagem.

Mais que um documentário sobre Bardot, ele faz um filme sobre sua experiência, no qual a atriz e suas encarnações na tela misturam-se aos desejos, memórias, invejas e fascinações de um espectador. "Da atriz ou da mulher, eu não sei qual revela a outra", ouve-se o diretor dizer no filme.

AUSÊNCIA

O projeto nasce, de fato, da recusa de Bardot em aparecer e conceder entrevistas diante da câmera.

"O que você quer de mim? O que procura? Eu não peço nada a ninguém, estou bem com minhas galinhas, meus porcos, meus cachorros e meus gatos... Eu já disse tudo. Você não precisa de mim para fazer seu filme. Na vida, é melhor não precisar de ninguém. Deixe-me em paz!", reagiu irada a atriz às solicitações do diretor.

No entanto, ela não deixou de ser generosa ao autorizar que ele filmasse os lugares onde viveu e vive e permitir o uso de imagens de arquivos pessoais e de cenas dos filmes que fez.

No lugar dela, Teboul convidou a atriz Bulle Ogier para interpretar trechos dos dois livros de memórias escritos por Bardot.

Esta ausência que se apresenta por uma voz faz pensar numa inesperada participação de Bardot num filme de Marguerite Duras, escritora-cineasta que tinha predileção por filmar vozes como se fossem corpos.

Teboul completa essa quimera com sua própria fala, narrando, confessando, julgando, acusando e, por fim, aceitando seu amor por uma mulher que é, como tudo no cinema, justo uma imagem.


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